Este é um microcosmo apartidário embora ideológico, pois «nenhuma escrita é ideologicamente neutra*»

*Roland Bartes

Intros: 1 2

sábado, 26 de abril de 2014

Clarividente!

Antes de se passar aos excertos da excelente entrevista de António Barreto ao Expresso, gostaria, apenas, de precisar que escrevi previamente este II capítulo: II – Da inexistência do necessário equilibro ideológico em Portugal.

«(…)

Mas devíamos ter feito um plano a longo prazo, a 20 anos, que fosse mais honesto, menos corrupto, menos desigual… Fez-se um sistema político que no início parecia bem feito. A Constituição é quase uma peça de ourivesaria: tem quatro artigos e meio para evitar o comunismo, cinco artigos para evitar o capitalismo excessivo, está tudo feito milimétrica, uma obra filigrana que funcionou. Até o CDS votou quase tudo. Já foram feitas oito ou nove alterações e o PCP continua a dizer que a Constituição é deles. O PS sente como deles, o Bloco também e o PSD tem dias. Aquela Constituição é um absurdo, é arcaica, obsoleta e não resolve problemas.

(…)

Depois houve uma voracidade política. Há uma total impossibilidade de conseguir acordos, nos variados momentos difíceis que temos vivido. Todos os países europeus viveram momentos em que foi preciso juntar 3, 4 partidos. A democracia portuguesa fundou-se na base da demagogia, da pura promessa eleitoral, do cabrito com batatas. Prometer o que não podes dar, paga com dinheiro que não é nosso, etc…

(…)

Vivemos ainda hoje sem nenhuma experiência democrática

(…)

Não tínhamos cultura de instituições democráticas. E quando tivemos, pusemo-las reféns dos partidos. O Conselho de Estado é dominado pelos partidos, o Tribunal Constitucional também… Há uma lógica partidária em tudo. Eu não quero um sistema eleitoral em que os independentes ganhem, mas abrir o sistema político para permitir que qualquer pessoa se candidate, porque não? É proibido criar partidos regionais, por exemplo. Isto revela medo. É proibido ser racista, é proibido propagandear o fascismo… Sou contra o racismo ou fascismo, mas essas coisas não se proíbem. Combatem-se. Se permitimos candidatos independentes no País inteiro, obrigamos os partidos a escolher os melhores.

(…)

Os partidos continuam estruturas de defesa de interesses dos seus militantes, estruturas de redes de influência… O caciquismo do antigamente, do grande proprietário ou delegado da União Nacional, é hoje dominado pela vida partidária, que tem o poder, as obras públicas, as construções, os favores e os subsídios, os investimentos públicos, o acesso aos dinheiros europeus…tudo depende da vida partidária.

(…)

É preciso mudar a natureza do regime e a natureza da política, o que leva uma geração. Não acredito que uma democracia se defenda com as leis. A democracia defende-se com leis, com instituições e, sobretudo, com a defesa popular. Se o povo não defender a democracia não temos democracia.

(…)

Mesmo para crescer o extremismo são necessárias instituições, mobilização, vontade política, agitação, organização, capacidade de associação…
Os holandeses têm isso e tem 6 partidos de extrema-direita, a Finlândia tem dois, a França tem três, a Suíça quatro.

Nós temos tão pouca sociedade cível e tão pouca vontade política que nem extrema-direita temos.

(…)

Por que tem Portugal o último comunismo do mundo? Por um atraso social e cultural. As coisas que eles dizem, repetem a mesma coisa à 40 anos.

(…)

Os partidos comunistas francês, italiano ou espanhol eram partidos sérios e acabaram porque os países evoluíram. Por cá, o PCP marcou excessivamente os últimos 40 anos.»

Professor Doutor António Barreto, in “Expresso 25 de Abril 40 anos - Volume 2”, de 18 de Abril de 2014, páginas 50 a 54.

Share |

Sem comentários:

Enviar um comentário

«Se mandarem os Reis embora, hão-de tornar a chamá-Los» (Alexandre Herculano)

«(…) abandonar o azul e branco, Portugal abandonara a sua história e que os povos que abandonam a sua história decaem e morrem (…)» (O Herói, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro)

Entre homens de inteligência, não há nada mais nobre e digno do que um jurar lealdade a outro, enquanto seu representante, se aquele for merecedor disso. (Pedro Paiva Araújo)

Este povo antes de eleger um chefe de Estado, foi eleito como povo por um Rei! (Pedro Paiva Araújo)

«A República foi feita em Lisboa e o resto do País soube pelo telégrafo. O povo não teve nada a ver com isso» (testemunho de Alfredo Marceneiro prestado por João Ferreira Rosa)

«What an intelligent and dynamic young King. I just can not understand the portuguese, they have committed a very serious mistake which may cost them dearly, for years to come.» (Sir Winston Leonard Spencer-Churchill sobre D. Manuel II no seu exílio)

«Everything popular is wrong» (Oscar Wilde)

«Pergunta: Queres ser rei?

Resposta: Eu?! Jamais! Não sou tão pequeno quanto isso! Eu quero ser maior, quero por o Rei!» (NCP)

Um presidente da república disse «(...)"ser o provedor do povo". O povo. Aquela coisa distante. A vantagem de ser monárquico é nestas coisas. Um rei não diz ser o provedor do povo. Nem diz ser do povo. Diz que é o povo.» (Rodrigo Moita de Deus)

«Chegou a hora de acordar consciências e reunir vontades, combatendo a mentira, o desânimo, a resignação e o desinteresse» (S.A.R. Dom Duarte de Bragança)

«Depois de Vós, Nós» (El-Rei D. Manuel II de Portugal, 1909)

«Go on, palavras D'El-Rey!» (El-Rei D. Manuel II de Portugal)